[Espanha] Rebelião das Escadas – Greve contra a Terceirização

Com informações da “Marea Azul”

Introdução:

A Espanha, como a Grécia, Portugal e Itália estão sendo confrontados por medidas de austeridadeanti operárias draconianas as quais se adicionam leis favorecendo a repressão mais dura dos movimentos sociais. Para aumentar a extração de mais-valia e reforçar sua dominação sobre o proletariado o capital vem adotando medidas de Terceirização da Força de Trabalho em vários setores como a construção, os trabalhos públicos e na Espanha o setor de Telecomunicações.

O capital utiliza da Terceirização por diversas razões:

  • Diluir a responsabilidade jurídica das empresas e fragmentando os atores de um setor econômico dado

  • Baixando os custos de produção, exacerbando a concorrência dos atores da terceira, quarta categorias de trabalhadores – terceirização da terceirização, quarteirização, etc

  • Assegurando a paz social e desmantelando as grandes concentrações operárias sempre suscetíveis de paralisar a produção por greves generalizadas nas empresas.

  • O projeto das terceirizadas é alimentar o conflito entre os trabalhadores através de pressões sobre as terceirizadas que passam a terceirizar os trabalhos no sentido de reduzir os custos de produção, sendo possíveis a quarteirização e assim por diante.

Esta forma de salário por tarefa (como afirma Marx) subjuga o trabalhador pois passam a trabalhar em média 12 horas por dia, 7 dias na semana.

Nessas situações, com a terceirização, a empresa pode trabalhar com 10 empregados fixos e 400 terceirizados ou autônomos.

 

Uma greve silenciada

Os trabalhadores técnicos precários da Telefónica-Movistar estão em luta há mais de mês e meio, mas têm sido raras as notícias sobre esta greve histórica na empresa espanhola de telecomunicações.

Em comunicado divulgado no domingo, 10 de maio, o comité de greve de Madrid saudou a unidade dos cerca de 15 mil técnicos da Telefónica MoviStar, assinalando assim o 44.º dia de greve, iniciada em 28 de Março e que se estendeu a todo o país a 7 de Abril.

A estrutura refere ainda o êxito da última ação dos grevistas em Barcelona, onde mais de cem trabalhadores ocuparam a loja da Movistar Mobile World Center na Praça da Catalunha, procurando romper o bloqueio informativo que tem abafado a sua luta.

Em resultado da ocupação, os representantes dos trabalhadores conseguiram uma primeira reunião com a administração da empresa na Catalunha para discutir aspectos contratuais, o estabelecimento de um salário mínimo e garantias de que os grevistas não sofrerão represálias.

Na reunião, realizada na segunda-feira, 11 de maio, não foram dadas respostas às reivindicações laborais.

A maioria dos técnicos responsáveis pela instalação e reparação de linhas telefónicas, ADSL e fibra óptica aufere salários abaixo dos 800 euros, cumprindo jornadas diárias até 12 horas, incluindo feriados e fins-de-semana.

No setor predominam os falsos trabalhadores independentes e com contratos a tempo parcial, cujas remunerações estão dependentes do número de instalações que realizam. Daí a exigência de um salário mínimo e de condições contratuais estáveis.

O controle das mídias

Apesar da grande adesão, a greve tem sido silenciada nos grandes meios de comunicação. A razão deste boicote informativo está provavelmente no fato de a Telefónica controlar, através de sumarentos contratos de publicidade, a generalidade dos meios de comunicação.

Além disso, a multinacional detém uma parte das ações do grupo Prisa, proprietário, por exemplo, do diário El País, controlando outros grupos de comunicação através de outros acionistas, como é o caso do BBVA que detém ações do grupo Vocento, proprietário do diário ABC.

Porém, os técnicos da Telefónica mostram-se determinados a levar por diante a sua justa luta.

Leia uma sintese do relato dos Trabalhadores em luta

(MARÉ AZUL)

Tudo começou em 28 de março em Madri, onde um grupo de trabalhadores subcontratados (terceirizados) e autônomos ou “falsos autônomos” melhor dizendo, que trabalham para a empresa Telefônica MOVISTAR, disseram basta a um novo contrato e condições de trabalho precárias e desumanas e decidiram convocar uma greve por tempo indeterminado e contra o monstro das telecomunicações IBEX35.

Quando começou a greve em Madri, rapidamente acendeu o alarme no resto do país e desde Barcelona começaram a trabalhar junto com Madri sobre a possibilidade de ampliação da greve em nível nacional, no setor, isso foi possível a partir de 07 de abril.

No dia 07 de abril começava assim uma luta nacional, que tinha que ser antes de tudo histórica, porque era de tal dimensão, e afetava outras empresas terceirizadas. Começava uma luta contra a precariedade laboral, o abuso do poder do capitalismo, o abuso do poder de uns poucos e escravismo de muitos, escravismo de uma classe trabalhadora que vinha sofrendo cortes de salários, perdas de seus direitos conquistados na luta e em sua liberdade de expressão. Esta luta se conhece com o nome de “Rebelião das Escadas” – em espanhol “Rebelión de las escaleras”, nascendo o movimento MAREA AZUL (pois os trabalhadores usam roupas azuis).

A CENSURA CORPORATIVA

Os meios de comunicação prontamente não noticiaram a greve e inclusive trabalharam para o boicote da mesma, junto às empresas Movistar e outras terceirizadas. A MAREA AZUL acusa que 15.000 trabalhadores estão em situações precárias, em situação de escravidão, não adiantando os jornais esconderem essa realidade pois alguns deles tem os donos como donos de empresas de terceirização.

O PAPEL DO CCOO E UGT

O segundo motivo injusto e não de menor importância é o fato dos sindicatos terem proposto, após a deflagração da greve, ao movimento MAREA AZUL a possibilidade de assumir as negociações e com isso esvaziar o movimento grevista. Se os grandes sindicatos, CCOO e UGT não trabalham para defender os trabalhadores e se dedicam a acalmar os conflitos fazendo acordos com os patrões é um fato, mas perguntar: o que está acontecendo? Porque vocês estão em greve? Porque se colocam em movimento contra os patrões? São perguntas estranhas, como se não soubessem da nossa situação de precariedade.

Tentaram convocar greves em nosso nome e pouquíssimos trabalhadores os escutaram e mesmo assim os abandonaram.

QUEM É A MAREA AZUL? PORQUE LUTAMOS? COMO CHEGAMOS NESSA SITUAÇÃO? COMO ESTAMOS LUTANDO? QUE APOIO TEMOS? QUE PEDIMOS?

A MAREA AZUL são trabalhadores e trabalhadoras da Telefônica Movistar (terceirizada da Telefônica) que trabalham para as terceirizadas e para as terceirizadas das terceirizadas, como autônomos ou “falso autônomos” pois recebem ordens todo dia como se fossem trabalhadores assalariados, mas que pagam suas próprias roupas, sua gasolina, seu veículo, suas ferramentas de trabalho, etc.

Lutamos porque chegamos a uma situação de precariedade, escravidão, de ter o direito de trabalhar entre 10 e 12 horas por dia de segunda a domingo por um salário entre 600 e 800 euros brutos por mês. Isso vem ocorrendo desde 2007 em muitas empresas, terceirizadas. Nunca havia ocorrido tal violência contra o trabalhador, que hoje se encontra acuado para sobreviver precariamente.

Em 1976 a Telefônica tinha aproximadamente 72 mil trabalhadores, e hoje as terceirizadas aproximadamente 50 mil, ou seja, 22 mil a menos, mas executando mais serviços que os 72 mil anteriores, por isso o trabalho de segunda a domingo. Assim outras terceirizadas, da Movistar, procedem, ou seja, com trabalhos extenuantes de segunda a domingo – Comfica, Itete, Elecnor, Cotronic, Abentel, Cobra, Montelnor, Liteyca, Teleco, que não vem cumprindo os contratos e arrochando os salários.

Como funciona a relação entre a Telefônica Movistar e as empresas terceirizadas da Movistar que é terceirizada da Telefônica?

Existe entre elas um contrato chamado de “Contrato de Bucle” no qual se renova e se baixa sempre a cada 3 ou 4 anos, com o objetivo de reduzir os salários dos trabalhadores, pois sabem eles que em função do desemprego, é possível contratar trabalhadores ganhando cada vez menos, um salário de miséria. Com essas pressões a intensidade do trabalho aumentou no mínimo 700%, pois não temos feriados, não temos sábados e nem domingos para descansar, ou ainda, não temos férias – o objetivo é aumentar a produtividade a qualquer custo, ou seja, com o sacrifício enorme dos trabalhadores.

A Movistar continuou com o processo de terceirizar, e as terceirizadas a terceirizar, comprimindo ainda mais os salários. Essas subcontratadas não cumprem as convenções trabalhistas, nem mesmo as cláusulas sociais conquistadas, e hoje, paga-se salário por fora, mas mais baixo ainda, provocando uma concorrência desleal e perversa entre os trabalhadores, transformando a vida de todos num inferno.

Essas subcontratadas são chamadas de “Empreendedor” por muitos políticos, “Autônomos” por muitos empresários e são na realidade “falsos autônomos”.

O QUE É UM FALSO AUTÔNOMO?

É um trabalhador que trabalha para a terceirizada da terceirizada porque foi dispensado pela primeira terceirizada, só que nesse caso, esse trabalhador é obrigado a comprar o seu uniforme, suas ferramentas, a pagar o seu transporte, a não ter seguro saúde (a não ser que pague do próprio bolso), etc. Não tem direito a férias, afastamento médico (se não trabalhar não ganha), ou seja, mão de obra a custo zero para as terceirizadas, e sacrifício para os trabalhadores que desamparados entram em desespero.

No entanto, dissemos BASTA! E para nossa surpresa, começamos a enfrentar dificuldades financeiras e de alimentação, mas prontamente, quando falamos de nossa miséria e grave situação, muitas pessoas da Espanha passaram a colaborar com o nosso Fundo de Greve para que possamos sustentar o nosso movimento e poder comer. Fizemos movimentos de rua, imprimimos panfletos, etc, falando de nossa situação e porque estávamos em greve por prazo indeterminado até que algo fosse feito para aplacar o nosso sofrimento, fome e miséria crescente. A MAREA AZUL levantou o grito de que não estamos sós, de que muitos milhares na Espanha, passam por essas privações, angariando o apoio da população. Não joguem a toalha, nada tendes a perder, continuem com suas lutas, grita a população e perdemos o medo mas não perdemos a dignidade e a possibilidade de poder viver uma vida melhor ao lado dos nossos filhos e companheiros, e companheiras.

Temos que dizer a classe política que que as leis que estão aprovando só beneficiam poucos – os patrões – e prejudicam a grande maioria que fica desamparada. Ao ouvir os patrões ou comungar com os mesmos, mas no momento das eleições vem despudoramente nos solicitar apoio, prometendo o que jamais farão, pois lá estão para defender os patrões. A MAREA AZUL convoca a população a sair às ruas e denunciar os seus sofrimentos, as suas agruras, e a todos afirmamos: Já ganhamos a luta e ganharemos cada vez mais se nos unirmos. Não há volta atrás, não tenhamos medo, que eles tenham medo porque nós controlamos o trabalho das comunicações desse país com nossos braços e nosso sangue.

Aos que vacilam afirmamos, um dia você será despedido e o seu esperado rendimento vai desabar, por isso o momento é esse para a nossa luta.

A luta por um trabalho DIGNO, que nos permita levantar a cabeça nos permite dizer aos que hoje andam camuflados – falsos autônomos – que amanhã terão dificuldades em olhar em nossos olhos, mas, a nossa luta é também a sua luta.

QUE PEDIMOS?

Nossa plataforma reivindicativa, plataforma do coletivo em luta:

Proposta de uma Coordenação Estatal de Assembleias em Províncias para denunciar os abusos e atender a nossa pauta de reivindicações:

  • Retorno dos contratos que garantam uma semana de trabalho normal de 40 horas e um salário superior ao salário mínimo;

  • Sem negociações para baixar os salários futuros

  • Reincorporação de todos os trabalhadores efetivos da Telefônica, e de maneira imediata, independentes das empresas terceirizadas.

  • Limitar o trabalho dos finais de semana e dias feriados estritamente às intervenções de urgência

  • Reforçar a segurança, notadamente para os trabalhos que exigem intervenção de duas pessoas e hoje são realizados por uma única por questão de rentabilidade e diminuição de custos.

Se aceitarem esses pontos, podemos suspender a greve temporariamente até o atendimento de nossas reivindicações.

Propomos uma mesa de negociação para a confecção de um novo convênio com o Setor de Telecomunicações que elimina as Terceirizadas e se estabeleça de forma legítima um contrato direto com a Telefônica, incorporando todos aqueles que foram demitidos. Que os trabalhadores possam ter o fim de semana livre assim como os dias festivos, podendo estabelecer-se um trabalho rotativo nesses dias e equitativamente repartidos entre todo o pessoal mediante um calendário com um mês de antecipação.

Nossa luta não é somente na Espanha, mas o alerta se estende ao Brasil pois a MOVISTAR acaba de adquirir a operadora GVT no Brasil. Como reconheceu o presidente da Telefônica-MOVISTAR ao afirmar que o Brasil deverá crescer muito antes que preveem os organismos internacionais, e nós da Espanha damos o mais sincero pêsame pois conhecemos a Movistar e cremos que a única coisa a crescer são os bolsos da junta diretiva da empresa Movistar.

No dia 06 de maio o senhor Cesar Alierta viajou para São Paulo para reunir-se com o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que o acolheu com as propostas de novas formas de trabalho – afirma o sr. Alierta: “Depois da fusão da Vivo com GVT, reunir-me-ei com a equipe do ministro das Comunicações para falar dos planos que temos para acelerar a digitalização da sociedade brasileira”. A empresa ElectroCable em conjunto com a Movistar preparam o mesmo para o Brasil – a precarização dos salários e a Terceirização para a redução drástica dos custos e assim embolsar grandes lucros.

Ao silêncio imperdoável dos Sindicatos CCOO e UGT respondemos:

TODO O PODER PARA AS ASSEMBLEIAS DA MAREA AZUL.

A GREVE DEVERÁ CONTINUAR POIS DECIDIMOS TODOS JUNTOS.

CCOO E UGT NÃO NOS REPRESENTAM.

Mensagem de solidariedade para:teleafonica@ymail.com