Mais um dia que marca a intensa luta do conjunto da classe trabalhadora pela diversidade e emancipação humana, por afirmação dos direitos de ser e existir e do conjunto da luta da classe trabalhadora contra o capitalismo que nos fere e mata!
Uma pessoa amarrada à boca de um canhão como pena de morte por ser homossexual. A execução dividiu o corpo em duas partes. Essa história de terror, invisibilizada ao longo dos séculos, ocorreu no Maranhão, em 1613 ou 1614, nesse que pode ser o primeiro caso de assassinato por causa da homofobia no país. Segundo o antropólogo Luiz Mott, recuperar os detalhes do que ocorreu e garantir divulgação ao caso é importante não apenas para reconhecer o esquecimento do passado, mas também para se indignar com a atualidade.
O assassinato, ocorrido no século 17, é um caso, portanto, que estaria próximo de completar 420 anos. A vítima foi um indígenaTibira (termo genérico tupinambá alusivo à homossexualidade). Ele foi acusado de “sodomia”, um pecado aos olhos do fundamentalismo religioso e da intolerância homofóbica por parte dos missionários franceses no Maranhão.
Em 2022, um casal gay foi morto a tiros na cidade de Icó, distante cerca de 384 quilômetros de Fortaleza/CE. Moradores confirmaram que os dois eram companheiros e foram mortos por homofobia.
Jovem gay é morto com golpes de picareta e corpo é jogado em cisterna no DF. Acusado é preso e diz que “perdeu a paciência”; crime ocorreu no setor habitacional da comunidade Sol Nascente.
Os requintes de crueldade destes relatos revelam que no Brasil o que se instalou há séculos é uma mentalidade de violência e crimes hediondos como forma de aniquilar a diversidade como expressão do ódio de classes a partir das opressões como forma de ampliar a exploração, através das crenças de uma elite que sempre dominou pela força para ter o poder econômico e afirmação da suposta superioridade colonialista que se pertua com o sistema capitalista.
Nos últimos quatro anos que antecederam, o que enfrentamos foi a junção de todo ódio de classes manifestado pelo governo Bolsonaro e sua extrema-direita.
Bolsonaro, disse quando era deputado que preferia ter um filho morto a ter um filho homossexual.
Logo que assumiu seu governo, retirou LGBTs das diretrizes de Direitos Humanos e suspendeu editais para filmes que tivessem a temática LGBT, ou seja, se utilizou da caneta de presidente para colocar em movimento seu ódio LGBTfóbico.
Já em 2022, derrotamos nas urnas um governo genocida, cruel e que destilava todo desprezo e naturalização da violência contra as diferenças. Seja pelo racismo aos indígenas e pretos, seja pela misoginia e horror do machismo ou pela indiferença e desprezo das diversas formas de afetos pela LGBTfobia. Mas, longe de derrotar o extremismo e o culto a morte na política, seguem livres para continuar a cometerem crimes de toda forma de discriminação.
O deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) vestiu uma peruca, durante discurso na tribuna da Câmara dos Deputados, no 08/03/2023, Dia Internacional de lutas das Mulheres. O parlamentar alegou que “sentia-se uma mulher transexual” e, por isso, teria “lugar de fala” na tribuna naquele dia, que é prioridade as deputadas tomarem a palavra. Um crime claro de transfobia em pleno parlamento do Congresso Nacional.
O cantor sertanejo Bruno, da dupla com Marrone, foi denunciado ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo) por transfobia. O documento foi apresentado ao órgão pela Associação dos LGBTQIA+, que pede a punição do artista bolsonarista por causa da conduta durante uma entrevista à repórter Lisa Gomes, da Rede TV!.
Ainda na sequência dos horrores do fundamentalismo político-religioso, mais uma afirmação do pastor-empresário André Valadão gerou uma série de comentários e controvérsias nas mídias sociais. Desta vez não foram mentiras ou performances enganosas, mas uma manifestação contra o orgulho LGBTIA+, celebrado em todo o mundo a cada ano no mês de junho. No palco de um culto em sua igreja, em 4 de junho, com a frase “Deus odeia o orgulho”, faixa decorada com as cores do movimento LGBTIA+, o pastor fez uma pregação extremista, incitando o ódio e negando o direito à diferença.
Este discurso se soma a outros. Valadão e a sua irmã, a também pastora-cantora gospel Ana Paula Bessa têm sido alvo de frequentes denúncias em diferentes foros judiciais por manifestações públicas que expressam ódio a pessoas homoafetivas.
Em estudo recente do CNJ, constata que a possibilidade de morrer de forma violenta é uma preocupante realidade para boa parte da população LGBTQIA+. Segundo este relatório apresentado em agosto de 2022 do Conselho Nacional de Justiça, mostra em que proporção são cometidos os vários crimes de que essas pessoas são diariamente vítimas no país. A lista destaca injúria, ameaça, lesão corporal e homicídio.
No período abordado pelo estudo Discriminação e Violência contra a População LGBTQIA+, entre os vários crimes cometidos contra os travestis, 80% deles foram homicídios. O mesmo crime é o que mais assola homens gays, com 42,5% das ocorrências.
Nos crimes de lesão corporal, gays estão em 39,1% dos relatos e 28,6% nos de injúria. Lésbicas sofreram mais crimes de lesão corporal (36%). Contra mulheres trans, os crimes de ameaça foram os mais comuns (42,9%).
As denúncias de violências contra pessoas LGBTQIA+ aumentaram mais de 300% nos primeiros cinco meses deste ano de 2023 em comparação com janeiro a maio de 2022. Foram mais de 2,5 mil alertas de 2023, contra apenas 560 no ano passado. Os dados são Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, as denúncias resultaram em 13,8 mil registros de violações, sendo a maior parte agressões física e psíquica.
Os homens são os que mais violam os direitos humanos de pessoas LGBTQIA+, revelando que o machismo é um forte traço das violências de gêneros.
Outro dado alarmante, revela que a falta de segurança para LGBTQIA+ tem como principal local das violações a casa em que vivem a vítima e o agressor. Entre os estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais somam quase a metade dos casos registrados em todo o país.
Para denunciar casos de violência e discriminação, basta ligar para o Disque 100. O serviço é gratuito, sigiloso e opera 24 horas por dia.
Stonewall mantem viva a memória e o despertar da revolta de 28 de Junho de 1969
Há 56 anos atrás, na cidade de Nova York num bar chamado Stonewall Inn, a indignação contra tanto desrespeito e violência contra gays, lésbicas, transexuais se colocou em movimento. No dia 28 de junho, não só frequentadores daquele espaço, mas centenas de LGBTQIA+ saíram às ruas para protestar contra a violência policial e, mais do que isso, para gritar pelo direito de existir conforme sua orientação sexual e identidade de gênero.
Manifestações em defesa da vida e dos direitos de LGBTQIA+ se espalharam em diversos lugares do mundo e assim o 28 de junho marca a luta contra a discriminação e o desrespeito que fere e mata.
De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 19 horas, uma pessoa LGBTQIA+ é morta no país. Segundo a Rede Trans Brasil, a cada 26 horas, aproximadamente, uma pessoa trans é assassinada no país. A expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos.
Os crimes são carregados de requintes de crueldade, o que mostra como a alienação e o preconceito alimentam o desrespeito que mata e fere quem tem a coragem de existir conforme sua orientação sexual.
Por tudo isso, mais do que no 28 de junho, mas todos os dias, como dizia a nossa camarada Rosa Luxemburgo: “por mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, a luta contra LGBTfobia só vai avançar na luta de nossa classe, somente enfrentando os preconceitos impostos nos mais diversos espaços da convivência humana e enfrentando esse sistema que se mantém na exploração e opressão que vamos vingar nossos mortos e viver numa sociedade onde ser diferente não signifique ser desigual.
Enfim, como diz o nosso grande camarada Eliezer, “Esmorecer jamais, recuar nunca e enfrentar sempre!” A luta segue por meio de todos e todas que sonham e lutam por uma nova sociedade, uma sociedade socialista, sem exploração e opressão.
Firmes!