Por Maxx Frömming – Fevereiro/2014
Cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo. Em largo e no coração. E como tudo que cresce, ele não cresceu em vão. Pois além do que sabia – exercer a profissão – o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia.
E um fato novo se viu. Que a todos admirava: O que o operário dizia, outro operário escutava. E foi assim que o operário do edifício em construção, que sempre dizia sim, começou a dizer não. E aprendeu a notar coisas a que não dava atenção…
O poema de Vinícius de Moraes – O Operário em Construção – exprime o que significou para nós, trabalhadores rodoviários, essa greve. Ao contrário do que a imprensa divulgou, nossa greve não começou por interesses pragmáticos na busca por aparelhos sindicais e/ou eleitorais.
Foram pelo menos 30 anos falando em nosso nome, nos vendendo para a patronal, nos tratando como crianças que não sabiam o que fazer, como se precisássemos ser guiados sempre pelo punho de ferro do patrão na nossa nuca. Na vida política, acreditavam que precisávamos ser guiados pelas palavras retumbantes e doces dos demagogos encantadores. Somos considerados pela maior parte das demais classes, que não a nossa, apenas uma massa de trabalhadores que se contenta com migalhas, com pérolas falsas e restos.
Nossa greve, afora o desfecho econômico, serviu para adquirirmos consciência da extensão e seriedade de nossas tarefas para o futuro. Ao aprendermos a dizer NÃO, passamos a entender quem somos: trabalhadores! Não precisamos que falem por nós ou que nos guiem. Quando aprendemos a dizer NÃO, começamos a fazer por nós mesmos.
Por isso somos vitoriosos. Votar pelo ajuizamento do dissídio passa longe de confiar na justiça. Sabemos de que lado ela está, mas essa foi a única opção na assembleia chamada às pressas pelo sindicato pelego. Dissemos não para todos que quiseram falar e decidir por nós! Nada que pudesse ser bom para o patrão, aceitaríamos.
A greve foi nossa, dos trabalhadores rodoviários. Construída pela base do começo ao fim. Não foi obra de nenhuma liderança e por isso foi tão forte e entrou para a história como umas das principais lutas de nossa classe, a de trabalhadores, contra o patrão em nossa cidade.
Por fim, esperamos que agora nos tratem como homens e mulheres a quem se fala abertamente, cruamente, das coisas que nos dizem respeito. Mostramos que trabalhador rodoviário unido jamais será vencido!
(*) Maxx Frömming é trabalhador rodoviário da Carris, membro do Comando de Greve e da Intersindical