Seguir lutando contra toda opressão

Tatiana Aparecida Zomer Almeida, ou Tati, como todos conheciam, era como se diz, ‘ponta de lança’ na base de catadores organizados da Vila da Paz, em Cachoeirinha. Mulher com quem sempre se podia contar na luta, no trabalho, na solidariedade com as companheiras e companheiros.

Trabalhadora, mãe de quatro filhos, não se michava em sustentar sua família puxando seu carrinho de material reciclável, enfrentando mau tempo ou problemas de saúde que volta e meia lhe incomodavam. Lutadora, estava sempre presente nas marchas, atos, nas reuniões, opinando com seu jeito firme e forte, buscando a melhoria das condições de vida e trabalho. Combatendo a opressão daqueles que querem enfraquecer a luta dos catadores. E também por isso, Tati comentava com todos que estava se separando do marido. Que ele não queria que ela participasse de nada, que ele queria lhe dominar, e isso não aceitava. E por essa vontade, foi acabar nas mãos covardes de um outro tipo de opressor, um diferente dos que nos acostumamos a enfrentar em bloco nas ações do movimento. Um opressor que estava dentro de casa, próximo, esperando o momento de derrubar quem não havia conseguido submeter. O marido de quem Tati pensava ter se libertado de vez, assassinou-a de forma brutal, inacreditável, a golpes de machado e facão, no dia 29 de julho. Deixou um bilhete infame escrito ‘Não trai mais’.

O que é uma pessoa que faz algo assim? Será que é gente mesmo? Não foi capaz de entender que Tati não queria mais nada com ele? Pensou que ela era sua posse, sua propriedade, um objeto seu? Com certeza não sabe o que é ser gente, que as pessoas tem vontades e devem ter liberdade para fazer o que quiserem das suas vidas. Mas é assim que pensam os opressores, que podem fazer o que querem com a vida dos outros. E nos dá raiva saber que na batalha daquele dia, a Tati estava sozinha.

Nas discussões que prepararam o nosso 8 de março desse ano, Dia da Mulher Trabalhadora, a gente se perguntava como nós ,como movimento social poderíamos ajudar as companheiras que enfrentam a violência doméstica. A Tati era uma das que se preocupava com o problema, pensando mais em ajudar as outras do que pensando nela mesma. Cabe a nós agora, cada vez mais, pela Tati, achar respostas para essa pergunta. E fazer o que for possível para que a justiça seja feita com esse covarde que desferiu golpes não só nela, mas em todas e todos nós.

Vai ser duro de agora em diante não ver a Tati sempre ao lado, como sempre estava, com seu olhar sério e cheio de dignidade.Seu rosto que mostrava a descendência índia, a herança guerreira que certamente trazia. Quando morreu o índio Galdino, queimado por filhinhos de papai em Brasília, seus companheiros de tribo disseram, conforme a crença deles, que a alma de quem é morto se mistura com o de seus iguais para seguir lutando dentro deles. Assim vai ser com Tati.

Tatiana Aparecida Zomer de Almeida, PRESENTE! SEMPRE! SEMPRE! SEMPRE!
Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável